Carolina Morais Araujo, J-PAL '19, sobre ampliar o impacto na América Latina e Caribe
A série Alumni Spotlight destaca ex-alunos do J-PAL que estão gerando impacto em diferentes setores e ao redor do mundo. Ex-gerente sênior no J-PAL América Latina e Caribe (J-PAL LAC), Carolina Morais Araujo ‘19 é agora Diretora Associada na Delivery Associates.
O que lhe inspirou a construir uma carreira na área de desenvolvimento e políticas públicas?
Me formei em Relações Internacionais no Brasil e, logo após a graduação, fui aceita no programa de trainee da Folha de S.Paulo, o jornal de maior circulação do Brasil. Ao longo de seis anos, trabalhei como repórter e editora em várias editorias, incluindo política, esportes e primeira página. Minha experiência como jornalista me permitiu desenvolver uma ampla gama de habilidades. No entanto, frequentemente sentia que havia uma lacuna entre identificar e mostrar um problema — como o jornalismo normalmente faz — e realmente contribuir para resolvê-lo.
Para preencher essa lacuna, em 2014, decidi fazer uma transição de carreira e fiz um mestrado em Relações Internacionais na School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia. Foi lá que descobri meu interesse e paixão por trabalhar com a relação entre evidências e políticas públicas, o que acabou me inspirando a direcionar minha carreira nessa área.
Como você conheceu o J-PAL?
Durante o meu mestrado, “Poor Economics” e artigos de pesquisa de afiliados do J-PAL faziam parte do currículo de vários cursos, incluindo Análise Quantitativa e Desenvolvimento Econômico. Após a formatura, procurei posições que me permitissem aplicar o conhecimento e as habilidades que adquiri durante meus estudos. Nesse período, o J-PAL LAC estava procurando um(a) gerente no Brasil para ajudar a expandir a presença da organização no país e apoiar afiliados na identificação de oportunidades de avaliação com o governo brasileiro e outras organizações focadas em impacto.
Eu estava planejando voltar ao Brasil e fui encorajada pelo meu colega de turma, Vincent Quan — que agora é co-Diretor Executivo do J-PAL North America — a me candidatar à posição. Foi um ótimo conselho, e tive uma experiência incrível trabalhando no J-PAL LAC, como Gerente Sênior no Brasil, de setembro de 2016 a janeiro de 2019.
Como foi ajudar a estabelecer a presença do J-PAL América Latina e Caribe no Brasil?
Foi uma grande oportunidade e um grande desafio! Durante meu tempo no J-PAL, percebi que líderes do setor público, equipes do governo e organizações focadas em impacto estavam altamente interessadas no trabalho e na expertise do J-PAL. Isso abriu oportunidades significativas para colaborar em projetos de pesquisa, políticas públicas e treinamento em setores chave, como meio ambiente, desenvolvimento social, educação e segurança pública.
Também me senti privilegiada por fazer parte do J-PAL LAC em um momento de expansão para outros países da América Latina, incluindo Brasil, México, Peru e República Dominicana. Trabalhar de perto com a equipe de liderança sediada no Chile e com gerentes nesses países foi realmente um dos destaques do meu tempo no J-PAL.
Contudo, a função também tinha vários desafios. O Brasil estava passando por um período de instabilidade política, o que levou a frequentes mudanças entre pessoas-chave no governo. Além disso, encontrar um ponto comum entre as necessidades dos governos, as agendas de pesquisa de afiliados e afiliadas e a disponibilidade de financiamento frequentemente se mostrou uma tarefa complexa e, às vezes, frustrante.
Qual aspecto do trabalho você achou mais desafiador e/ou interessante?
Trabalhar com gestores e gestoras do governo que realmente acreditam no poder de políticas baseadas em evidências e ajudá-los a aprimorar suas habilidades de avaliação foi o aspecto mais gratificante do meu trabalho. Eu gostei particularmente das oportunidades que tive para ampliar o acesso a conteúdo de alta qualidade e para contribuir para os esforços de capacitação.
Um dos meus projetos favoritos foi o desenvolvimento de um curso online massivo e aberto (MOOC) sobre Avaliação de Impacto de Programas e Políticas Sociais, em parceria com a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) no Brasil, lançado em 2017. Este foi o primeiro curso aberto, gratuito e online sobre avaliações aleatorizadas em português, oferecido por afiliados do J-PAL, especialistas convidados e equipe. Apenas no primeiro ano, quase 6.000 pessoas se inscreveram, e o curso tem sido oferecido anualmente pela ENAP desde então. Até hoje, recebo mensagens no LinkedIn de servidores e servidoras públicas que expressam sua gratidão pelo curso, destacando o quanto ele tem sido acessível e valioso para seu trabalho.
Você deixou o J-PAL para assumir uma posição na Delivery Associates, onde tem trabalhado de perto com governos para implementar políticas eficazes em larga escala. Conte-nos mais sobre seu trabalho atual — e como sua experiência no J-PAL influenciou seu trabalho na Delivery Associates?
Atualmente, sou Diretora Associada para a América Latina e Caribe na Delivery Associates, uma consultoria global de impacto social especializada em transformar o setor público. Colaboramos com governos, filantropias e organizações internacionais para apoiar a implementação de políticas públicas e entregar resultados significativos para os cidadãos ao redor do mundo.
Na minha função atual, lidero iniciativas multinacionais voltadas para ampliar inovações urbanas e intervenções baseadas em evidências em diversos setores, incluindo saúde pública, meio ambiente, agricultura e desenvolvimento econômico. Minha paixão — e muitas vezes, minha obsessão — por escalar programas exitosos começou durante meu tempo no J-PAL, onde o Generalizability Puzzle tornou-se uma referência fundamental para meu trabalho. Hoje, enquanto continuo apoiando governos e organizações de impacto no avanço de políticas baseadas em evidências, busco constantemente encontrar o equilíbrio certo entre praticidade e rigor, um princípio profundamente arraigado em mim pelo J-PAL.
No J-PAL, também tive minha primeira experiência supervisionando estratégia, operações e crescimento organizacional. As lições que aprendi, as habilidades de negócios que desenvolvi e a mentalidade empreendedora que cultivei lá se tornaram ferramentas muito úteis em meu trabalho atual na Delivery Associates.
Como você tem visto a evolução do cenário de políticas baseadas em evidências ao longo de sua carreira? E que direção você vê isso tomando, especialmente na América Latina e Caribe?
Na minha opinião, o cenário de políticas baseadas em evidências deu passos significativos nos últimos anos. Por exemplo, atualmente estou envolvida em um programa que apoia líderes municipais no uso de dados para aprimorar a tomada de decisões e a governança. Tenho observado uma tendência crescente em que líderes públicos estão cada vez mais demandando evidências de alta qualidade para informar suas decisões. Hoje, dados e evidências de alta qualidade estão se tornando mais acessíveis, compreensíveis e aplicáveis. Os líderes públicos não precisam mais ser doutores em Economia para usar efetivamente evidências em seus processos de tomada de decisão.
Além disso, o ecossistema de desenvolvimento — organizações internacionais, filantropias, setor privado, ONGs, etc. — está desempenhando um papel crucial no apoio aos governos na promoção de políticas baseadas em evidências. Essas entidades estão gerando evidências relevantes e oportunas que estão melhor integradas ao ciclo de políticas, facilitando para os governos a aplicação de abordagens baseadas em evidências.
Quais habilidades ou experiências adquiridas trabalhando no J-PAL você considerou úteis em sua própria carreira?
Uma habilidade chave que o J-PAL me ajudou a desenvolver foi a capacidade de fazer boas perguntas. Uma boa pesquisa sempre começa com uma pergunta relevante, e no J-PAL, muitas vezes ouvi: “Seja apaixonado pelo problema, não pela solução.” Essa abordagem continua sendo central no meu trabalho.
Outra habilidade crucial que aperfeiçoei no J-PAL foi a construção de coalizões sólidas de parceiros. Na América Latina e Caribe, o sucesso de um projeto do J-PAL muitas vezes dependia de um tripé de colaboração entre governos, pesquisadores e financiadores. Entender os objetivos de cada parceiro, identificar seus interesses comuns e construir uma coalizão focada em alcançar um impacto real tem sido uma habilidade fundamental ao longo da minha carreira.
Por fim, o J-PAL me proporcionou minha primeira experiência trabalhando com equipes internacionais e multiculturais. Meus colegas no J-PAL LAC me expuseram a diversas culturas, realidades locais e diferentes formas de trabalho, que continuam a me inspirar enquanto me esforço para criar ambientes de trabalho inclusivos e significativos. Uma vez ouvi um conselho da minha colega Anne Thibault, ex-Diretora Executiva Adjunta do J-PAL LAC: “Não devemos apenas trabalhar duro, mas também nos divertir no trabalho.” Este lema se tornou um princípio orientador na minha vida profissional.
Em sua posição atual, você trabalha em diversos países com diferentes tipos de governos, além de parceiros filantrópicos. Que conselho você tem para trabalhar com uma ampla gama de parceiros que frequentemente têm motivações e objetivos variados?
Construir parcerias de sucesso é essencial para ampliar políticas eficazes e alcançar milhões de pessoas necessitadas. Para maximizar o alcance e a eficácia das parcerias, tenho achado útil focar em três aspectos:
- Ser uma boa ouvinte: reservar tempo para entender as motivações e interesses comuns de todos os parceiros e parceiras para fomentar a confiança e garantir que todos estejam alinhados em direção a uma visão comum.
- Definir responsabilidades claras: Estabelecer papéis, responsabilidades e estruturas de governança bem-definidas desde o início.
- Focar em metas de impacto concretas: Direcionar a parceria para alcançar resultados específicos e mensuráveis que tenham um impacto significativo na vida das pessoas, mantendo o impulso e garantindo que a parceria promova mudanças relevantes.