
Postdoc Spotlight: Alipio Ferreira, J-PAL '23, sobre sua trajetória de pesquisa no J-PAL LAC

Na nossa série de entrevistas com ex-pesquisadores e pesquisadoras de pós-doutorado, conversamos com Alipio Ferreira, J-PAL '23, sobre sua experiência como pós-doc no J-PAL América Latina e Caribe.
O que te levou à área de desenvolvimento e, em particular, às questões de fiscalização de políticas ambientais e finanças públicas? Quais perguntas motivam a sua pesquisa?
Crescendo no Brasil, sempre me intriguei com o papel das políticas públicas: elas conseguem tirar as pessoas da pobreza, promover progresso econômico ou acabam agravando os problemas? Isso me levou à economia do setor público, que estuda quando e como o Estado deve intervir, e, mais adiante, à área ambiental, onde os mercados muitas vezes falham em gerir recursos de forma eficiente, resultando em exploração excessiva ou danos desnecessários.
Um aspecto central da minha pesquisa é entender como a fiscalização influencia a eficácia das políticas. Uma vez que o governo intervém, ele precisa pensar em como garantir o cumprimento das regras sem desperdiçar recursos. Por exemplo, as políticas devem assumir a forma de impostos, proibições, ou ter abordagens mais sutis? O desafio está em equilibrar os custos de fiscalização com a efetividade da política, já que muitas vezes as pessoas tentam burlar as regras, o que gera novas ineficiências. No fundo, busco entender como os custos de fiscalização moldam as escolhas das políticas públicas e como essas afetam os resultados ambientais.
O que te motivou a fazer um doutorado e o que te atraiu em fazer um pós-doc no J-PAL?
Minha motivação para fazer um doutorado foi se moldando ao longo do tempo. No início, depois da graduação, eu estava focado em finanças públicas e queria trabalhar com formulação de políticas. Trabalhei quase dois anos em uma instituição pública no Brasil e depois fiz um mestrado, ainda com o objetivo de seguir nessa área. Foi nesse período que comecei a me interessar por temas ambientais.
Trabalhei por um ano em uma consultoria de energia e meio ambiente na Holanda, e aí percebi que queria fazer uma transição para a carreira acadêmica. Fui atraído pela ideia de me aprofundar em temas específicos e também de explorar o ensino. Decidi então fazer o doutorado, mesmo não tendo seguido o caminho mais curto. Não recomendo necessariamente esse trajeto mais longo para quem já sabe que quer seguir na pesquisa, mas, para mim, foi importante ter esse tempo para entender o que eu queria fazer e como investir melhor nas minhas habilidades.
Fiz meu doutorado na Toulouse School of Economics e depois entrei no J-PAL como pesquisador de pós-doutorado por um ano. Valorizei muito a oportunidade de fazer pesquisa acadêmica em conexão com formuladores de políticas e organizações comprometidas com gerar impacto. Claro, também admiro muito o trabalho da rede acadêmica do J-PAL, e foi um privilégio interagir com muitas dessas pessoas durante este período. No plano pessoal, o pós-doc era baseado no Brasil, e foi muito bom poder passar um tempo no meu país depois de vários anos fora.
Você foi pós-doc na Iniciativa King para Ação Climática (K-CAI) do J-PAL, por meio do escritório da América Latina e Caribe. O que mais te empolgou nessa experiência e o que você aprendeu com ela?
Meu período como pós-doc com a K-CAI e o J-PAL LAC foi uma curva de aprendizado intensa. Eu estava baseado no Rio de Janeiro, enquanto os escritórios do J-PAL LAC ficam em Santiago e São Paulo. Apesar disso, tive a oportunidade de interagir com equipes das três localidades, cada uma com objetivos e abordagens distintas.
O que mais me empolgou foi trabalhar com equipes extremamente talentosas e técnicas, que não apenas dominam a pesquisa acadêmica, mas também têm um forte senso prático e voltado para soluções de política pública com impacto. A motivação para gerar impacto está realmente no DNA do J-PAL. Fiquei muito grato pelo pós-doc me permitir avançar em caminhos mais arriscados, como dedicar tempo a parcerias com a expectativa de que algumas delas levassem a estudos aleatorizados (RCTs). O J-PAL entendia que esse tipo de investimento envolvia risco, mas também podia ter um alto retorno em termos de parcerias. Algumas dessas iniciativas deram certo, outras não, mas acredito que parte da fórmula de sucesso do J-PAL está nesse espírito empreendedor: conversar com muita gente e ativar uma rede para fazer os projetos acontecerem.
Como você utilizou os recursos e redes disponíveis durante seu tempo no J-PAL?
Embora muita gente associe o J-PAL à sua rede acadêmica, a que mais utilizei durante o pós-doc foi a interna, tanto do J-PAL LAC quanto da equipe da K-CAI. Mantive uma comunicação constante com essas equipes, informando cada passo que dava. Essa comunicação foi essencial: colaboramos em eventos, webinars e formações. O que muitas pessoas talvez não vejam é a quantidade de trabalho que acontece nos bastidores. O suporte administrativo e as conexões fornecidas pelas equipes foram fundamentais para meu progresso, facilitando muito a execução dos projetos e a condução de estudos de campo.
Hoje você é professor assistente na Southern Methodist University, no Texas. Como sua experiência no J-PAL te preparou para esse papel?
Como professor assistente, meu trabalho envolve equilibrar ensino e pesquisa, mas com menos tempo para construir parcerias — algo que pude fazer mais durante o pós-doc. Agora, a rede acadêmica do J-PAL se tornou ainda mais importante, especialmente no momento em que estou focado em escrever artigos e aprofundar minhas linhas de pesquisa.
O aspecto mais valioso do meu pós-doc foi a oportunidade de começar e de explorar projetos com mais flexibilidade, especialmente experimentos de campo, que geralmente levam tempo para amadurecer. Tendo iniciado alguns desses projetos durante o pós-doc, eles estão começando a ganhar forma agora que sou professor. A experiência foi essencial para me inserir no mundo dos experimentos de campo e dar os primeiros passos em projetos que ainda estão em desenvolvimento.
Que conselho você daria a PhDs que pensam em fazer um pós-doc no J-PAL ou seguir uma carreira parecida com a sua?
Embora seja difícil dar conselhos universais, já que cada trajetória é única, eu sugeriria para quem pensa em fazer um pós-doc no J-PAL ou em seguir uma carreira semelhante já ter em mente uma agenda de pesquisa específica. É importante ter proatividade, chegar com ideias, especialmente quando se trabalha com governos ou com parcerias no setor privado. Ter uma agenda clara facilita muito a comunicação e a colaboração. No meu caso, já ter refletido sobre questões de fiscalização ajudou a engajar de forma produtiva com equipes no Brasil e no Peru, em vez de só procurar oportunidades de aleatorização já existentes.
Para quem quer seguir carreira na academia, é essencial construir um portfólio coerente de projetos de pesquisa e ter um foco identificável. Dito isso, muitos PhDs do J-PAL entram em projetos já em andamento, o que pode ser um caminho menos arriscado. Ambos os caminhos — construir algo do zero ou se integrar a projetos existentes — são válidos. Vai depender do que melhor se alinha com seus objetivos e interesses.
Você pode compartilhar alguma lembrança especial ou divertida do seu período como pós-doc no J-PAL?
Uma lembrança marcante do meu pós-doc foi minha conexão inesperada com o Peru. Nos meus primeiros dias como fellow do J-PAL, fui ao país para uma conferência e comecei a buscar oportunidades para trabalhar com temas ambientais. As coisas foram se desenrolando e, rapidamente, o Peru se tornou uma parte importante da minha vida, tanto pessoal quanto profissional.
Desde então, venho colaborando com a agência de fiscalização ambiental do país, uma organização extremamente inovadora e com atribuições muito interessantes. Junto com a IPA, começamos a montar um portfólio de projetos e um laboratório de inovação, que agora está ganhando forma. Um momento especial foi uma formação que conduzimos com essa agência: tivemos uma participação excelente dos funcionários e funcionárias, e o evento foi não apenas produtivo, mas também muito divertido. Foi um dos destaques do meu período no J-PAL, por combinar trabalho significativo com uma experiência prazerosa.
